A universidade do futuro é dos velhos



Com base em uma investigação realizada nos últimos 20 anos com americanos acima de 50 anos de idade, cientistas da Universidade de Stanford, especializados em estudos da longevidade, sustentam que a aposentadoria prejudica a memória e, portanto, acelera a decadência do indivíduo. A razão: a falta de uso tiraria o vigor do cérebro. Semelhantes conclusões são encontradas em pesquisas realizadas em outros 12 países europeus.
Esses dados foram divulgados na semana passada, no mesmo dia em que o IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) revelou uma projeção sobre o envelhecimento da população brasileira- defendendo que o país deveria mudar urgentemente sua visão sobre o que é ser velho. Num futuro breve, a idade média do nosso trabalhador será de 45 anos. Na apresentação dos dados, os pesquisadores daquele instituto relacionaram a aposentadoria como mais um estímulo de problemas como a depressão e o alcoolismo.
A bomba da aposentadoria é mais um daqueles temas que estão passando longe, por motivos óbvios, dos discursos dos candidatos à presidência. No entanto, ficará- na marra- na agenda do país.
Para ser mais preciso, quando isso aparece no debate eleitoral é uma ilusão, para dizer o mínimo. José Serra promete um reajuste de 10% no valor das aposentadorias e mais um aumento do salário mínimo dos brasileiros, para R$ 600,00. Todos os especialistas consultados por esta coluna me informam que, apenas na previdência, essas medidas custariam por baixo mais R$ 11 bilhões -o equivalente a todo o valor do programa Bolsa Família. Isso representaria mais uma pancada num deficit da previdência projetado, para o próximo ano, de R$ 41 bilhões. Lembremos que ele já tinha proposto duplicar o Bolsa Família, dando-lhe, além disso, um 13º. Some-se o buraco provocado pelas aposentadorias dos servidores, estimado em R$ 27 bilhões.
Dilma Rousseff fica espertamente calada diante das promessas de seu concorrente, José Serra, embora saiba que essa conta não fecha. Até porque está longe do topo das prioridades do PT mexer em interesses corporativos. O PT, afinal, é um dos responsáveis pelo buraco da aposentadoria dos servidores federais, por deixar de aprovar lei aprimorando sua contribuição.
Somos um país em que quase ninguém se escandaliza com o fato de que professores universitários se aposentam ainda jovens. Entre nas grandes universidades americanas, incubadora da maioria dos vencedores do Prêmio Nobel, e veja o número de mestres e pesquisadores ainda trabalhando com mais de 80 anos de idade.
Há uma discussão ainda mais complexa do que as questões fiscais, embutida na projeção do IPEA- de que, em breve, a idade média do trabalhador será de 45 anos- e é uma discussão essencialmente educacional.Isso significa que haverá bem menos jovens e que as empresas terão de saber lidar com empregados mais velhos. Serão demandados programas ainda mais intensos de reciclagem profissional. Não se vai poder mais parar de estudar.nAs boas empresas vão se assemelhar a escolas, com investimentos crescentes em universidades corporativas.
Isso significa que haverá bem menos jovens e que as empresas terão de saber lidar com empregados mais velhos. Serão demandados programas ainda mais intensos de reciclagem profissional. Não se vai poder mais parar de estudar.nAs boas empresas vão se assemelhar a escolas, com investimentos crescentes em universidades corporativas.

Já há sinais palpáveis desse movimento. Além da disseminação das chamadas universidades corporativas, nada cresce mais no Brasil do que ensino a distância, cujos alunos, em média, têm nota mais alta do que a dos cursos exclusivamente presenciais. A explicação: são alunos mais velhos e responsáveis.
Outro sinal é a propagação da matrícula no período noturno. Em São Paulo, uma universidade está oferecendo cursos de madrugada: as aulas começam às 23h e acabam quase às 2h.
Estamos vivendo na era da aprendizagem permanente. Estuda-se o resto da vida nos mais variados lugares. Daí que, podem apostar, a universidade do futuro, nas quais não se vai mais distinguir o virtual do presencial, será dominada pelos velhos.
PS- Para mim, esse sonho da aposentadoria é um pesadelo. É o que indica aquelas pesquisas sobre a memória. Deveríamos ensinar à criança, desde o berço, que a vida só se torna uma bela aventura, com sentido, se não pararmos de ter curiosidade, de aprender e de criar. Fazer planos para não fazer nada é a morte.
Gilberto dimenstein – e-mail: gdimen@uol.com.br
Extraído da Folha de São Paulo: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff1710201021.htm

Falar a verdade para o idoso sobre doenças



Antes de tentar responder a pergunta acima, vamos ler primeiro esta história real, com nomes e situações preservados por alterações:
“Dr. Antonino estava preocupado não somente com a saúde debilitada de Nestor, 84 anos, portador de doença coronariana severa (coronárias obstruídas), mas também de como a esposa e os filhos escondiam dele a gravidade e o prognóstico dado pelo cardiologista. Mesmo após três pontes de safena e duas angioplastias, as crises de anginas e o coração dilatado mostravam que a doença cardíaca não evoluía bem. O que era pior, até deitado, vinha as crises de dor no peito e de falta de ar. O médico tentou contra-argumentar com a esposa (esta era irredutível), mostrando que Nestor deveria saber da gravidade de seu quadro clínico, era um direito seu. Nada.
Um dia, por acaso, numa dos vários internamentos de Nestor, para controle dos sintomas de angina e falta de ar, Dr. Antonino chegou no quarto onde estava internado e notou que estava sozinho. Perguntou pela esposa, sua fiel escudeira, e recebeu a resposta de que fora à capela do hospital, rezar o terço junto com o pessoal da pastoral da saúde. Examinou, então, mais uma vez o paciente, e quando já ia embora, foi interpelado pelo Nestor com uma pergunta desconcertante: – Será que consigo chegar pelo menos até o natal, Dr. Antonino? Com um olhar quase imperceptível de espanto, mas experiente pelas décadas de acompanhamento de pacientes cardiopatas graves, Dr. Antonino rebateu com outra pergunta: – Por que a pergunta longe dos filhos e da esposa? O que o Sr. quer dizer com isto?
- Realmente, preferi falar longe de minha família, sobre o meu estado, doutor, pois sinto que eles têm uma esperança muito grande e uma fé enorme de que vou me curar! Mas percebo que meu coração já deu o que tinha que dar. Não me resta muito tempo para o infarto fatal. Mas, olhando para o rosto de minha esposa, para a fé de minha filha, não… eu não tenho direito de lhes roubar este fio de esperança! Não é justo, Dr. Antonino! O senhor me entende?”
Após ler esta história, temos duas considerações a fazer:
  • É direito do paciente idoso saber sobre o seu real estado de saúde?
  • Se lhe é concedido o direito, como falar a verdade?
Respondendo a primeira pergunta, temos o respaldo ético de três autoridades no assunto:
Do Código de Ética Médica: é vedado ao médico ” deixar de informar ao paciente o diagnóstico, o prognóstico, os riscos e os objetivos do tratamento, salvo quando a comunicação direta ao paciente possa provocar-lhe dano, devendo, nesse caso, a comunicação ser feita pelo responsável legal”.
Do Código de Ética do Hospital Brasileiro: “O paciente e/ou seu responsável legal têm o direito irrestrito a toda informação referente à sua saúde, ao tratamento prescrito, às alternativas disponíveis e aos riscos e contra-indicações de cada uma destas. É reconhecido ao paciente o direito – igualmente irrestrito – de recusar determinado tratamento”.
Da Carta Brasileira dos Direitos dos Pacientes: “Toda pessoa necessitada de cuidados de saúde tem o direito de… ser informada a respeito do processo terapêutico a que esta submetida, bem como de seus riscos e probabilidades de sucesso…. de solicitar e receber informações relativas ao diagnóstico, ao tratamento e aos resultados de exames e outras práticas efetuadas durante a sua internação… de ser informado o real estado de sua enfermidade, do real estado de gravidade”.
Ainda é corriqueiro em nossa cultura brasileira, a máxima de não falar prognósticos catastróficos para os pacientes, com medo de agravar ainda mais o quadro clínico. Quanto menos o doente fica sabendo, talvez melhor seriam suas chances de recuperação e cura! Quanto mais idoso, menos se fala!
Porém, primeiro nos países desenvolvidos (Estados Unidos, Europa…) observamos que cada vez mais se fala a verdade para os pacientes, como um direito inalienável. Em nosso meio, esta mentalidade de “dourar a pílula”, de esconder a verdade, ainda está muito arraigada nas famílias, o que atrapalha a dificuldade de comunicação entre o médico e o paciente. Será que, realmente, estamos protegendo o paciente?
Voltemos a pergunta do título desta página: como falar a verdade…?
Como diz Léo Pessini, em seu livro “Como lidar com o paciente em fase terminal” (Ed. Santuário, 1990), de onde muitas idéias desta página foram retiradas: “O paciente em fase terminal ou então, mais amplamente, que tem uma doença incurável, TEM O DIREITO DE SABER A VERDADE. Não temos o direito de tirar a esperança de ninguém, mas igualmente não podemos acrescentar ilusões. São geralmente desastrosas as práticas de enganar. O paciente necessita, sim, de esperanças, mas não pode ser enganado.
Léo Pessini continua: “A responsabilidade primeira de comunicar a verdade é do médico, mas também quem está mais próximo do doente pode fazê-lo, com ciência do médico. Cada caso é diferente, dependendo da sensibilidade e capacidade daqueles que prestam os cuidados, bem como da condição do paciente e de sua habilidade de relacionar-se com os outros”.
Um último depoimento, de uma senhora idosa portadora de câncer: ” Não sou mais obrigada a ouvir, em respostas as minhas perguntas silenciosas, as palavras, certamente bem-intencionadas, de consolo hipócrita, que me dirigiam as enfermeiras… Pouparam-me que se falasse uma coisa aqui no quarto e outra diferente lá fora, diante da porta… A palavra CÂNCER foi pronunciada inclusive por mim mesma. Com isto, foi-me evitada a humilhação de ser animada por consoladores sem a mínima sensibilidade. Dessa forma, foi preservada a minha dignidade, pude continuar a viver como ser humano. Creio que o mais importante, no entanto, foi que a mim e a meus familiares, foi poupado um triste jogo de esconder. Dessa maneira, não se criou nenhuma barreira entre nós. Continuamos unidos, exatamente quando era tão necessário e aproximamo-nos mais ainda”!
Fonte:http://www.cuidardeidosos.com.br/

As mães não deveriam morrer



Uma amiga perdeu a mãe, de repente. A notícia me alcançou por e-mail, agora que a internet deixou o mundo pequeno. Estou longe, mas também aqui, neste lugar sem distância que é o mundo virtual. Mas com tempo veloz, em que uma hora pode ser um pretérito definitivo na disputa pela supremacia dos segundos. Como era antes, quando as notícias levavam meses para chegar e o mundo sobre o qual falavam já tinha inteiro se transmutado, quando as cartas eram sempre um retrato do passado? Agora tudo é agora. E os tempos se confundem de outro modo. Mas se confundem.
Senti tanto o desamparo da minha amiga, porque sei que as mães não deveriam morrer. Na mesma noite sonhei com meus mortos. Meu avô sentava-se com minha avó ao redor da mesa da cozinha como antes e como nunca, porque meu avô sabia que minha avó tinha morrido e eu sabia que meu avô tinha morrido uns 20 anos depois dela. E uma quarta pessoa, desconhecida de todos nós reunidos naquela cozinha, sabia que eu também já tinha morrido, numa outra época que ainda não chegou para mim. Mas comíamos bolinhos de chuva naquela mesa porque compreendíamos que, no curto espaço de existência, neste soluço entre o nascimento e a morte que pertence a cada um de nós, nem os sonhos devem ser desperdiçados. E ali, enquanto eu dormia num quarto de hotel, éramos uma impossibilidade lógica que conversava e que ria.
Quando perdemos alguém que amamos, a dor é tão extravagante que nos come vivos, como se fosse uma daquelas formigas africanas que vemos nos documentários da National Geographic. A dor está lá quando acordamos. Continua lá quando respiramos. Nos espreita do espelho diante do qual escovamos os dentes pela manhã com um braço que pesa uma tonelada. E, quando por um instante nos distraímos, crava seus dentes bem no coração. Neste longo momento depois da perda, sabemos mais dos buracos negros do que os astrônomos porque carregamos um dentro de nós. E arrancamos cada dia nosso do interior de sua boca ávida, com uma força que não temos, para que não nos sugue de dentro para dentro.
Devagar, bem devagar, muito mais devagar do que o mundo lá fora nos exige, o vazio vai virando uma outra coisa. Uma que nos permite viver. Descobrimos que nossos mortos nos habitam, fazem parte de nós, correm em nossas veias fundidos a hemácias e leucócitos. Que suas histórias estão misturadas com as nossas, que seus desejos se deixaram em nós. Que, de certo modo, somos muita gente, multidão. Como também nós seremos em muita gente, deixando, em cada um, ecos de diferentes decibéis e intensidades. Acolhemos então aquele que nos falta de uma forma que nunca mais nos deixará. Como saudade. E como saudade não poderá mais partir.
Somada, a vida humana é um rio barulhento de memórias no leito do tempo. Enquanto outras espécies sabem, sem que ninguém tenha ensinado, que precisam voar para o sul para não sucumbir no inverno ou que devem escalar dezenas de metros de uma árvore em busca da fêmea para se acasalar num momento preciso, nós perpetuamos lembranças. Não é uma intuição prática, no sentido ordinário do termo. Mas é tão vital quanto o acasalamento ou a fuga do inverno.
SAIBA MAIS
Assim como a natureza tece mil expedientes para perpetuar seus genes, pertençam eles a um chimpanzé ou a uma mosca; nós, cuja diferença evolutiva nos permitiu inventar a cultura e ser na cultura, perpetuamos a vida através da memória. Já que, para nós, não há vida sem a consciência da vida. Transmitimos as histórias, o conhecimento e os sentimentos dos que se foram, tanto como humanidade quanto como indivíduo, como se fossem parte de um DNA imaterial. Do contrário, seria impossível conviver com o privilégio de nossa espécie, a consciência do fim.
Quem não entende isso acha que, quando doamos as roupas e os objetos de quem amamos e se foi ou deixamos de chorar no cemitério, superamos a perda. Não acredito que exista superação no sentido do esquecimento. O que acontece é que compreendemos que aquela pessoa não estará mais no mundo externo, não pertence mais a ele. Mas também não é mais um vazio que grita como nos primeiros meses, às vezes anos. Ela agora mora no mundo de dentro, vive como memória nossa, em nós. E assim não está mais morta, mas viva de um outro jeito. É o que me ensina João, o homem que divide comigo a aventura arriscada de viver. De luto por sua própria mãe, percebo que a carrega nos olhos quando se maravilha com a novidade do mundo.
Ele me ensina que a vida dos mortos em nós não é possessão nem fantasma. Nem é morte. O mórbido é quando não conseguimos dar um lugar vivo para o morto. Então a memória fica pregada naquele momento de horror e a vida se torna impossível, porque a existência não é água parada, mas rio que corre. Acontece quando alguém, pelos mais variados motivos, não consegue fazer o luto e dar um lugar de saudade para a dor. Quando nos fixamos, num dogma ou numa falta, partes importantes de nós gangrenam. Mas quando os mortos se acomodam em nós como lembrança que muda segundo o viver de quem vive, tudo flui. Se há algo que a vida é em essência é movimento. E o luto é um movimento que reabre as portas para a vida ao romper com a rigidez da morte em nós. Por isso, para o luto não pode haver pressa, porque é grande e largo o gesto que temos de fazer acima e apesar do horror que nos atinge até mesmo em partes que nem sabíamos que existiam.
Quando perdeu a mãe, João compreendeu por completo a poesia que Carlos Drummond de Andrade escreveu para a poeta Ana Cristina Cesar, que se suicidou aos 31 anos atirando-se pela janela do 13° andar. Ela fala da diferença entre falta e ausência. “Por muito tempo achei que a ausência é falta. E lastimava, ignorante, a falta. Hoje não a lastimo. Não há falta na ausência. A ausência é um estar em mim. E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços, que rio e danço e invento exclamações alegres, porque a ausência, essa ausência assimilada, ninguém a rouba mais de mim.” É isso. A ausência não é falta. Ou, dito de outro modo, a falta nos come vivos. A ausência, por paradoxal que pareça, nos preenche.
Há um filme de extraordinária beleza sobre a perda, a saudade e o lugar dos mortos em nós. Chama-se “Hanami – Cerejeiras em flor” (Doris Dörrie, 2008 – Alemanha/França). Passou nos cinemas, ainda resiste numa sala ou outra, mas já assisti ao filme na TV por assinatura. Se você encontrar este nome na programação, não deixe de ver. Feche as cortinas, proteja-se do barulho da rua, programe-se para algo especial. O filme conta a história de um homem que não gosta de sair da rotina em sua viagem mais longa e menos previsível. Ele parte em busca de sua mulher e só a encontra quando descobre que ela está dentro dele, nos gestos dele, no corpo e nos olhos que ele empresta a ela. É um filme sobre a morte que nos leva ao único lugar onde vale a pena chegar, à vida.
Quando sofremos uma grande perda ou somos abalroados por uma catástrofe pessoal de outro gênero, as pessoas dizem, para nos consolar e com as melhores intenções, que tudo passa. Acho que, na verdade, nada passa. A frase mais precisa seria que tudo muda. Também nós que aqui estamos como matéria um dia seremos apenas eco. Tanto pelas nossas células que alimentam e se agregam a outros seres vivos a partir da decomposição de nosso corpo como pelas histórias que transmitimos e permanecem além de nós. Aquela que fui ontem já mudou, a ruga que há um ano não existia agora é visível na pálpebra direita, minha percepção do mundo não é mais exatamente a mesma do mês passado, alterada por novas experiências que me alargaram. De certo modo, nascemos e morremos tantas vezes até o fim da vida. E é este o movimento que importa.
Queria dizer isso à amiga que perdeu a mãe de repente. Mas agora minha amiga ouve, mas não pode escutar. A dor a está comendo viva como as formigas africanas. Tudo é horror e absoluto. Mas com o tempo, um período só dela e que não pode ser determinado em parte alguma nem por ninguém, minha amiga vai começar a perceber que a mãe é uma ausência presente no formato das suas unhas, num certo jeito de mexer a cabeça quando fala, na tonalidade rara dos olhos. Está nas palavras e nas histórias que conversam dentro dela, na mitologia familiar que se perpetua, nos sons da memória. E então poderá reencontrar a mãe dentro dela. E levá-la para passear.
E, num dia que sempre chega, viverão as duas como história, como cacos de lembranças encaixados em diferentes rearranjos de vitrais, na vida dos que vieram depois. É pouco, talvez. É tudo o que temos.
ELIANE BRUMJornalista, escritora e documentarista. Ganhou mais de 40 prêmios nacionais e internacionais de reportagem. É autora de Coluna Prestes – O Avesso da Lenda (Artes e Ofícios), A Vida Que Ninguém Vê (Arquipélago Editorial, Prêmio Jabuti 2007) e O Olho da Rua (Globo).
Extraído de:  http://bit.ly/aOmIF5

Doe um pouco de seu tempo






Doe um pouco de seu tempo
Vivemos numa época em que ninguém tem tempo de fazer mais nada. É cada vez mais difícil reunir os amigos, visitar amigos e parentes, conversar na porta de casa com um vizinho, dormir, fazer refeições em família, dentre outras coisas prazerosas, mas que acabaram sendo praticamente extintas por nosso atual estilo de vida. Ultimamente, as pessoas trabalham mais, estudam mais, somando isto às atividades de vida cotidiana, acabamos ficando com pouco tempo para convivermos com as pessoas.
Parece que ter tempo virou um artigo de luxo, o que eu considero muito triste. Valorizo muito o prazer de ter um tempo para você, de cultivar relações interpessoais saudáveis com familiares e amigos. Parece que não temos mais tempo de ajudar as pessoas que precisam de algo. Por mais difícil que possa estar a situação econômica, parece mais fácil ajudarmos em dinheiro do que em presença, ou seja, temos mais facilidade em doar coisas materiais (dinheiro, roupas e móveis que não usamos mais, livros) do que em doarmos um pouco de nós mesmos àqueles que necessitam.
Muitas pessoas precisam mais da presença de outra pessoa do que de bens materiais. Em relação ao idoso, seja ele saudável ou dependente, não poderia ser diferente.
  • Assim como as crianças, os jovens e os adultos, o idoso também tem a necessidade de se socializar, ou seja, de ter contato e conversar com outras pessoas, sejam elas de qualquer idade. O idoso também tem necessidade de falar, de escutar o que o outro tem a dizer, de ser escutado. É mito pensar que todos os idosos são ranzinzas ou chatos, eles têm muito o que ensinar e o que aprender.
  • Um grande problema relatado pelos idosos, em especial aqueles mais velhos, que já passam dos 80 anos, é a perda de familiares e amigos. Muitas das pessoas com as quais conviveram no decorrer de suas vidas já faleceram, fator que os deixa sozinhos e deprimidos. Nada os impede de fazerem novas amizades!
Doe um pouco de seu tempo para um idoso. É fácil perceber que um idoso dependente precisa de ajuda para a realização de atividades mais básicas, como comer ou vestir-se.  Por outro lado, em relação ao idoso saudável, pode ser mais difícil perceber que ele também possui suas necessidades e demandas. A principal carência do idoso é de atenção e afeto. Pense um pouco nisso. Independente se o idoso é seu familiar ou não, dedique um pouco do tempo para ele. Poucos minutos podem fazer uma grande diferença na vida daquele que se sente sozinho e desamparado. Sentir que os outros te dão atenção ou gostam de você é importante para minimizar os sentimentos de solidão, de tristeza, melhora a auto-estima e o estado geral de saúde do indivíduo.
Fonte:http://www.cuidardeidosos.com.br/

Maus tratos em idosos: em Portugal, como no Brasil



Os crimes contra idosos aumentaram 120% entre 2000 e 2009, apurou a Associação Portuguesa de Apoio à Vítima. Todos os dias, dois idosos são maltratados de alguma forma. Além da violência emocional e física, há a registar também os abusos financeiros.
Ao longo de nove anos, as estatísticas da Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV) registam cerca de dez mil crimes perpetrados contra pessoas com mais de 65 anos. Trata-se, porém, da “ponta do iceberg”, assegura Maria de Oliveira, técnica da associação e responsável pela campanha nacional de sensibilização para esta temática, que hoje é lançada.
Os maus-tratos psicológicos e físicos são as manifestações mais frequentes de violência, mas há outras, por vezes mais subtis ou aceites socialmente, para as quais a APAV quer chamar a atenção.
Extorquir a reforma, coagir à transferência de dinheiro para contas de outras pessoas (mesmo que sejam familiares), controlar a gestão dos bens ou limitar a autonomia financeira, efectuar internamento compulsivo em lares ou abandonar idosos em hospitais constituem formas de violência, sublinha a especialista.
Os crimes financeiros, embora ainda representem uma minoria das denúncias apresentadas à APAV, assumem já uma dimensão significativa.
Resultados preliminares de um estudo sobre violência contra mulheres idosas, realizado em cinco países da Europa, aponta os abusos emocionais e financeiros como os de maior prevalência na população portuguesa, revela José Ferreira-Alves, investigador da Escola de Psicologia da Universidade do Minho. Para este professor da Psicologia do Envelhecimento, a par da crescente visibilidade do fenómeno, assiste-se a um aumento real da violência contra idosos.
Trata-se geralmente de violência doméstica, já que os maus-tratos a idosos são em regra cometidos por familiares próximos e coabitantes. Em muitos casos, estes crimes têm como alvos pessoas com história prévia de vitimização ou ocorrem em famílias atingidas pela toxicodependência. Os idosos que padecem de demências ou outras patologias incapacitantes estão também mais expostos a agressões.
As vítimas não costumam denunciar os abusos, seja porque não têm consciência de que estão a ser vítimas de um crime, seja porque sentem vergonha ou culpa por fazê-lo, principalmente quando os agressores são os filhos, explica Maria de Oliveira.
Campanha de sensibilização
A  campanha que a APAV lança hoje  pretende sensibilizar a sociedade para a necessidade de denunciar as situações de violência e tem também uma vertente pedagógica dirigida aos profissionais de saúde, para que detectem e encaminhem casos de abusos.
Um em quatro é afectado
Um estudo europeu, divulgado no início deste ano, dava conta de que um quarto da população portuguesa com mais de 60 anos foi vítima de algum tipo de violência no ano passado.
Violência psicológica
A violência faz parte da vida de muitos idosos, uma vez que 40% já sofreram algum tipo de violência (a psicológica é mais frequente), de acordo com o mesmo estudo.
Vítima
- Sexo feminino
A maioria das vítimas é do sexo feminino. No ano passado, em 513 dos 639 casos denunciados a vítima era mulher.
- Idade entre os 65 e os 75 anos
Mais de metade das vítimas tem entre 65 e 75 anos e um quarto localiza-se na faixa dos 76 aos 85 anos.
Agressor
- Homens com mais de 65 anos
Mais de 70% dos crimes são cometidos por homens. Tal como as vítimas, a maioria dos autores dos crimes tem mais de 65 anos.
- Cônjuges ou filhos
Os autores dos abusos têm geralmente laços de parentesco: 33% são cônjuges ou companheiros e 30% são filhos. Fora das relações familiares, os vizinhos são os agressores mais frequentes.
Jornalista – Helena Norte

http://www.jn.pt/PaginaInicial/Sociedade/Interior.aspx?content_id=1679522

Os filhos não querem cuidar de seus pais




A partir de vários comentários que chegam até nós pelo portal ou por email é possível concluir uma triste realidade: os filhos não querem mais cuidar de seus pais idosos, principalmente quando eles estão doentes. Acho revoltante deparar com esta realidade, principalmente se pensarmos que foram nossos pais as pessoas que cuidaram de nós enquanto crianças, dependentes, nas vezes que ficamos doentes.
É cada vez mais comum o relato de filhos que se sentem sobrecarregados, pois os irmãos ou outros familiares se retiram, e sobra para apenas um dele a árdua tarefa de cuidar de um idoso dependente. Uma coisa é fato: não existe uma lei que obrigue todos os filhos a cuidar dos pais idosos, em igual proporção. O Estatuto do Idoso, em seu Art 3° Paráguafo único -  V, ilustra claramente a “priorização do atendimento do idoso por sua própria família, em detrimento do atendimento asilar, exceto dos que não a possuam ou careçam de condições de manutenção da própria sobrevivência.” Ou seja, o idoso deve ser acolhido por sua própria família (filhos netos, irmãos, etc), sendo o atendimento em instituições recomendado apenas para os idosos que não possuem família ou que não tenha condições de se manter. Porém não há como obrigar a todos os irmãos se dedicarem na mesma proporção.
É um absurdo as pessoas procurarem leis que obriguem os filhos a exercerem sua função de filhos, penso que cuidar dos pais idosos seja uma tarefa tão natural aos filhos quanto cuidar de filhos pequenos é atribuição dos pais. Quando uma mãe ou pai se recusa a cuidar de um bebê ou abandona-o, toda a sociedade se revolta com um ato de atrocidade contra um incapaz. E quando o inverso acontece? Um idoso dependente é tão vulnerável quanto um bebê, ou seja, não tem condições de se alimentar sozinho, de se vestir sozinho e de defender-se.
Seguem abaixo algumas justificativas que filhos têm lançado mão para não cuidarem de seus pais idosos:
“Meus irmãos não me ajudam, estou sozinha para cuidar de papai!”. Não é certo “tirar o corpo fora” e deixar toda a tarefa de cuidar para apenas um irmão! Porém, mais errado ainda é este irmão deixar o idoso de lado. Isto é crime! Abandono e negligência do idoso são crimes e, quando denunciados, os agressores irão responder criminalmente. Não faz sentido criticar a falta de alguém (o irmão que não ajuda) cometendo a mesma injustiça. O idoso é que sai prejudicado. E se o cuidador fosse filho único e não tivesse nenhum irmão para dividir os cuidados? Muitas pessoas nessa situação conseguem alternativas (cuidador, ajuda de terceiros, instituições) e não ficam sobrecarregados, assim como também o idoso não fica abandonado.
“Estou ficando doente de tanto cuidar sozinha, decidi que não cuido mais de mamãe”. Um cuidador sobrecarregado pode mesmo adoecer em função do alto stress emocional e da sobrecarga física de cuidar de um cuidador (trocar roupas, dar banho e mudar de posição um adulto é muito pesado). Porém, mais uma vez afirmo que abandonar o idoso não irá resolver o problema. Um cuidador que fizer isto, além de poder responder na justiça, também poderá sentir-se culpado e deprimido por suas atitudes. Pensar apenas em seu bem-estar não resolve o problema. A solução é reunir a família e pensar no que pode ser feito no sentido de trazer melhor qualidade de vida para o idoso dependente e seu cuidador.
“Trabalho fora o dia todo, não tenho tempo de cuidar de mamãe!”. Um fato inquestionável: as pessoas precisam trabalhar para garantir sua subsistência, principalmente os cuidadores de idosos dependentes, que costumam ter vários gastos excedentes. Cuidar de um idoso nessas condições requer o mesmo trabalho e responsabilidade que cuidar de uma criança e nem por isto todas as mães param de trabalhar fora! É fato que o Brasil não disponibiliza de centros-dia gratuito para os idosos (com funcionamento semelhante ao das creches, o idoso passaria apenas o dia num local com acompanhamento multiprofissional), porém, em muitos casos, é possível arcar com os custos de um cuidador apenas em uma parte do dia, ou mesmo contar com a ajuda de familiares ou vizinhos de confiança que possam cuidar do idoso enquanto o familiar trabalha.
“Meu pai me abandonou enquanto criança, hoje ele está idoso e doente, mas não irei cuidar dele”. Cuidar envolve laços de afetividade desenvolvidos ao longo dos anos. Lógico que se esta pessoa não foi um bom pai torna-se mais difícil para um filho ser seu cuidador vários anos mais tarde. Porém, não se justifica um erro com o outro. Se as mágoas foram muito intensas, às vezes tentar ser o cuidador pode não ser a melhor saída, pois pode ser uma forma do filho descontar seu rancor pelo pai – atualmente impotente. Esta relação direta de dependência pode abalar emocionalmente ambos. Uma alternativa viável seria reunir a família e investir num bom cuidador familiar ou mesmo levar ao idoso a uma instituição de longa permanência adequada, prestando a assistência necessária.
“Minha mãe me agride e está muito chata. Não quero cuidar dela”. Agressividade e comportamentos ranzinzas podem ser sintomas da doença de Alzheimer, ou seja, não são propositais. Algumas crianças também são agressivas e cansativas e nem por isto a maioria dos pais levam-nas para abrigos. Pense nisto toda vez que pensar em deixar de cuidar de um familiar idoso que depende de seus cuidados. Converse com o médico do idoso, pois existe medicação para minimizar os sintomas agressivos e, mais uma vez, converse com a família em busca de ajuda.
Estes foram apenas alguns exemplos de justificativas que os filhos têm usado para não mais cuidarem de seus pais ou familiares idosos. Cada pessoa tem suas questões, seus problemas e limitações, mas não cuidar de pais idosos é grave! É uma forma de violência. Elabore alternativas, não tenha vergonha de pedir ajuda, às vezes as pessoas não ajudam, pois não sabem que você está precisando ser ajudado. Quando for possível, contrate um cuidador profissional, sua presença em casa, mesmo que em apenas uma parte do dia, pode ajudá-lo muito, principalmente quando não se tem outras pessoas da família para ajudar. Se a única alternativa for levar o idoso para uma ILPI, faça isto de maneira consciente, mantendo seus vínculos de pais e filhos. O que não pode é abandonar um idoso dependente, seja em casa, ou na instituição. E um cuidador também não pode fazer tudo sozinho.
Portal do Idoso

Cuido de meu pai…



Mas ele não era tão legal, como agora. Está sendo traumático. Já passei por cada constrangimento na minha vida! Ele colocou muita pressão na nossas vidas, uns nem comentam, outros, como eu, já carrega algo meio que traumático, como por exemplo, o de não ter filhos, casei um pouco tarde!
É tudo tão confuso, tão proibido, que me deixa emocionada. Tantas proibições que eu tenho certeza que isso ainda hoje atrapalha a minha vida. Pra se ter uma ideia, o meu avô foi esperar o bando de “LAMPIÃO” passar na estrada, para que ele fosse juntamente com eles. Pode?? Meu pai é de Pernambuco e eu sou da Paraíba, pode ser cultural ou não, só sei que isso tem muitas influências negativas na minha vida.
Odeio essas raizes paralisantes de vida sadia. Eu sou do tempo em que não se passava na frente de pessoas conversando e levava água em uma bacia para meu pai lavar as mãos. Nuuuunca meu pai me fez um carinho, nem nos outros. Era só peia no rabo!! Mãe sempre nos defendia quando podia.
Cresci com a frase na cabeça, “QUEM CASA, QUER CASA”, “SE ENGRAVIDAR, EU EXPULSO”, “SEU NAMORADO É O MEU CINTURÃO”, e muitas outras!! Estou casada há 10 anos, tenho 44 anos e ainda de castigo moro com meu pai, pois como fui a última a “tomar destino”, sobrou pra mim. E te garanto que não afetou apenas a minha pessoa, mas tambem alguns irmãos.
De 7 filhos, ele só tem 5 netos e 2 bisnetos e mais um na barriguinha da mamãe. Quatro irmãos têm filhos e outros três não tem filhos. Como eu posso ter filhos aqui em casa, cuidando de um pai de 80 anos, marido e um irmão que já foi noivo 3 vezes, cada uma noiva passou 7 anos com ele, a atual já se vão 6 anos de namoro e noivado?? O coitado é mala e complexado. Quem faz tudo pra ele sou eu e o cara tem 47 anos.
Eu sei que estou abusando das palavras, mais fica complicado cuidar de um idoso sem se estressar também… E isso não é nada perto da realidade. Eita desabafo complicado né? Pior seria vocês me ouvindo falar ao vivo, chego a tropeçar nas palavras. Mas é um pouco complicado, pra quem está na roda. Espero que todos façam sua parte sem agressões fisicas, mental, moral ou qualquer outra, pois nossos pais não merecem e nem nós merecemos também!
Nalva