Os programas sociais voltados para o idoso independente



Bem ressalta a escritora goiana Cora Coralina “O que vale na vida não é o ponto de partida e sim a caminhada. Caminhando e semeando, no fim terás o que colher”. Sendo assim, é pertinente a cada ser humano analisar o que irá colher, frente ao que semeou.  O que nos convida a uma reflexão, pois só caminha, só semeia quem vive a vida de uma forma ativa, produtiva, atuante.
Portanto, vale ressaltar que a vida humana é uma constante caminhada onde ocorrem mudanças, transformações, e “o desenvolvimento humano é fascinante e extremamente complexo, pois está sujeito a muitas influências, ele focaliza o estudo científico de como as pessoas mudam, e também de como ficam iguais, desde a concepção até a morte. As mudanças são mais óbvias na infância, porém ocorrem durante toda a vida” (PAPALIA; OLDS; FELDMAN, 2000, p. 24).
De acordo com a teoria psicossocial, proposta por Erik Erikson, o processo de desenvolvimento ocorre ao longo da vida. O desenvolvimento se dá por etapas, e ao final de cada uma delas ocorre uma crise, que ajuda a preparar o indivíduo para a etapa seguinte. Uma resolução saudável destas crises possibilita o surgimento de uma virtude, sendo que no idoso esta virtude é a sabedoria. (PAPALIA; OLDS; FELDMAN, 2000).
Segundo Simões (1998, p. 25), “a vida do ser humano passa por uma trajetória que se inicia com a vida extra-uterina, seguindo com a infância, adolescência, casamento, procriação, criação dos filhos, aposentadoria, velhice e morte, propiciando à vida conotações diversificadas e dinâmicas”. Convém, porém, sermos transparentes em relação ao ser idoso, pois a tendência é estereotipá-lo segundo a faixa etária, desprezando o conceito de que cada pessoa é um ser individual, único, indivisível e que dentro de sua totalidade tem características especiais. O mais preocupante é que esse tempo de vida não é alcançado de forma satisfatória e sem problemas físicos, psicológicos, mentais, etc., ao contrário, esses seres humanos, experientes na maioria das vezes, são marginalizados, desprezados, e apresentam um quadro de carência emocional, assustando a todos os que aí se enquadram ou virão a se enquadrar.
Ainda fazendo referência à autora goiana acima mencionada “Não sei… se a vida é curta ou longa demais para nós. Mas sei que nada do que vivemos tem sentido, se não tocarmos o coração das pessoas”, essa reflexão nos mostra a necessidade de mais ações políticas que visem propiciar um envelhecimento agradável e ativo, no qual a autonomia, o bem estar, a segurança, os programas sociais e, sobretudo, a dignidade do idoso sejam devidamente respeitadas. Que saibamos tocar o coração de nossos idosos com o carinho que eles merecem.
No Brasil, o apoio, o respeito, a dedicação precisam ser mais valorizados, e é importante ressaltar que esta forma de tratamento e cuidado não está restrita somente aos profissionais que lidam diretamente com esta área, mas a cada ser humano, aos governantes, aos profissionais, aos familiares, enfim, cada cidadão possui o papel de buscar formas de promoção, de proteção, de estimulação e que proporcionem bem estar do idoso, que muitas vezes se encontra fragilizado e esquecido.
Contudo, a adoção do estilo de vida saudável e o cuidado com a própria saúde são importantes em todas as fases da vida de uma pessoa, assim como na terceira idade. Um dos mitos do envelhecimento é que é tarde demais para adotar esse estilo de vida. Pelo contrário, é importantíssimo que todas as pessoas adotem e vivam de forma cuidadosa e preventiva, este estilo de vida saudável. É de extrema importância o envolvimento em atividades físicas, uma alimentação saudável, a realização de consultas médicas periódicas e o uso de medicamentos corretos prescritos pelo médico, que podem prevenir doenças e o declínio funcional, aumentar a longevidade e promover uma qualidade de vida do indivíduo.
O envelhecimento deve ser entendido como um processo do ciclo evolutivo que, assim como os demais, pode ser permeado por adversidades. Logo, o idoso, como qualquer ser humano em desenvolvimento, é constantemente desafiado a manter e a renovar sua vida de maneira significativa. Sendo assim, através dos diversificados programas criados especialmente para a terceira idade, constata-se que o envelhecimento humano é um processo que pode oferecer bem-estar psicológico e boa qualidade de vida.
É perceptível que no atual cenário brasileiro onde temos uma longevidade crescente e o surgimento de novas alternativas de vida, apareçam novas necessidades e novos interesses, observa-se também uma busca, um crescente interesse da população considerada “com mais idade” em se envolver, dedicar-se e realizar atividades, conquistando, assim, uma velhice ativa, participante e bem sucedida. É notório que quanto mais ativa a pessoa se manter no decorrer de sua vida, melhor será o seu processo de envelhecimento.
De acordo com o que foi abordado, a qualidade de vida de um indivíduo idoso está diretamente relacionada ao seu conceito de envelhecimento ativo. Situações como casamento dos filhos, aposentadoria, viuvez, perda de familiares, amigos, impulsionam o idoso a engajar-se em algum tipo de atividade, em grupos sociais, o que pode proporcionar uma mudança quanto ao conceito de velhice, no que diz respeito à limitação e à incapacidade, porque nos grupos é possível encontrar idosos ativos, autônomos, satisfeitos, realizados com sua condição geral, que se relacionam bem com outras pessoas da mesma faixa etária ou não.
O indivíduo é, por natureza, um ser gregário. Desde que nasce, vivencia diversas experiências e vive em interação com outras pessoas e durante seu desenvolvimento passa por diferentes grupos como família, amigos, escola, trabalho, grupos religiosos. O idoso no decorrer de sua vida transitou por todos esses grupos, ou quase todos, e tem condições internas e necessidade de se filiar a um grupo de pessoas onde sente bem estar, conforto, segurança, prazer e uma boa interação.
Segundo Zimerman (2000, p. 74) “Essa interação constitui-se em uma relação de dar e receber. O que leva os indivíduos a se modificarem constantemente. É a ponte do “eu” e do “você”, sem essa ponte o ser se desintegra, pode destruir-se a si próprio ou a terceiros de forma acintosa”.
Percebe-se então a eficácia de um vínculo construído dentro dos grupos, dos programas onde os idosos estão inseridos, pois ali eles recebem segurança, apoio, compreensão e liberdade, podendo então promover aos componentes do grupo um crescimento livre e sadio. Nesse crescimento, por meio das experiências ali adquiridas, surgirão mudanças no comportamento, tanto dos indivíduos como do próprio grupo.
Destaca-se aqui a necessidade da estimulação ao idoso para sua inserção nos grupos, nos programas para ele dirigidos. Por exemplo, as oficinas de estimulação  onde  o idosos receberá treino de atenção, memória, qualidade de vida e bem-estar psicológico. Observa-se que, com o avançar da idade, existe menos confiança, menos projetos para o futuro, mais dificuldades, mais limitações, então se torna urgente o trabalho de estimulação realizado com os idosos.
De acordo com Zimerman (2000, p. 135) “A maneira eficaz de fazer com que o velho tenha qualidade de vida, a aceitação e a inserção na família e na sociedade que proponho é a estimulação”. (…) “A estimulação é o melhor meio para minimizar os efeitos negativos do envelhecimento e levar as pessoas a viverem em melhores condições”.
Alguns idosos têm sessenta, setenta anos de idade biológica, mas são jovens na idade emocional. Eles vivem a vida com aventuras, estão sempre bem-humorados e dispostos. Sorriem, brincam e sonham com facilidade, apesar dos problemas e das perdas e marcas do passado. São jovens no corpo de velhos e conviver com eles é uma lição de vida. Isto pode estar relacionado à idéia da virtude da sabedoria, defendida por Erikson.
Percebe-se que estimular e apoiar são fatores importantes na terceira idade, que podem levar o idoso a refletir e assumir um novo jeito de viver, de atuar em sua própria história acreditando que se pode viver ativamente mesmo no envelhecer.
É importante destacar que o envelhecimento com boa qualidade de vida é um tema que precisa ser muito explorado nos dias de hoje, pois se faz necessário que cresça o número de pessoas que possam usufruir mais dessa etapa da vida. Porém, isso só se tornará realidade a partir do momento em que a velhice deixar de ser vista como uma etapa de decadência, mas sim como sinônimo de vida, de melhor idade, idade ativa, idade de saborear a convivência grupal e não o abandono e a solidão.
Pode-se acreditar que sendo um idoso ativo, atuante, é possível ser um idoso feliz, mesmo com as perdas decorrentes nesta idade. É possível, passada a marca dos sessenta anos, divertir-se, desfrutar, desejar, manter a “paixão de conhecer o mundo”, viver de uma forma intensa e ativa, dançar com passos, às vezes, mais vagarosos, respeitando as próprias limitações da idade, mas sem se perder da música.  Fala-se muito em qualidade de vida para os idosos, mas, na verdade, é algo que se constrói com o decorrer do tempo e que precisa ser trabalhado de forma preventiva.
Entre tantos exemplos de grupos para a terceira idade, temos a utilização da Musicoterapia no trabalho com os idosos.  Esta, segundo Pazzini (2004), busca ajudar o idoso a estimular suas capacidades físicas, mentais, cognitivas e sociais a partir de um processo terapêutico baseado no canal sonoro musical e na criatividade. Nas sessões de musicoterapia com idosos pode-se trabalhar com diferentes atividades como: canto, audição musical, atividades rítmicas com instrumentos musicais, atividades de expressão artística, exercícios de relaxamento, dança, expressão corporal, jogos, exercícios de percepção entre outros. Os principais objetivos terapêuticos traçados são o resgate e estimulação da memória, diminuição da ansiedade e agressividade, estimulação motora, orientação espacial e temporal, melhora do humor, resgate e fortalecimento da identidade. Temos ainda os Grupos de canto e coral – onde a música é benéfica ao idoso, pois tem a capacidade de atuar em certas áreas do cérebro. Assim, estimula a memória (através da lembrança das letras), trabalha a consciência de ritmo, estimula a atenção e a coordenação de movimentos. Ao ter contato com as partituras, o idoso pode redescobrir músicas que fizeram parte de seu passado e resgatar emoções antigas. Além da socialização, isto tudo pode melhorar a qualidade de vida do idoso.
O envelhecimento é um processo natural e o estado de espírito é fundamental para a longevidade. O segredo é não se acomodar!  Contudo, o envelhecimento ativo é um processo que diz respeito a todas as pessoas e deve ser visto como uma tarefa constante. Assim, cabe à sociedade criar espaços, equipamentos diversificados, seguros e acessíveis aos mais velhos, e além de tudo, aprender que a terceira idade pode ser considerada a etapa de usufruir bem as oportunidades que foram deixadas em certos momentos da vida.
Ademais, pode-se concluir que os idosos independentes, atuantes, participantes de grupos, de programas, estão em busca de desenvolvimento social, desfazendo preconceitos que a sociedade mantém a respeito de suas vidas, como inutilidade, improdutividade, enfim, as pessoas da terceira idade que levam uma vida ativa, estão se permitindo viver, dançar, divertir, cantar, conquistar novos amigos, novos aprendizados, assim, o melhor jeito de envelhecer é “envelhecer vivendo, buscando, atuando, acreditando, sonhando e cantando como um eterno aprendiz”, como nos mostra um trecho da música de Gonzaguinha, Eterno Aprendiz:
Viver! E não ter a vergonha
De ser feliz
Cantar e cantar e cantar a beleza de ser
Um eterno aprendiz…
Conforme ensina o verso da música “Cantar e cantar a beleza de ser um eterno aprendiz” destacamos a eficácia dos programas para o idoso, onde ele tem a oportunidade de viver plenamente como um eterno aprendiz.
Silvana Vieira de Carvalho Paiva – Psicóloga   e-mail – silpaivapsi@hotmail.com
Referências:
PAPALIA, D. E.; OLDS, S. W. Desenvolvimento Humano. 7.ed. Porto Alegre: Artmed. 2000. p. 24, 532-543.
PAZZINI, Daiane. A contribuição da musicoterapia na velhice. 2004. Disponível em: http://www.musicaeadoracao.com.br/efeitos/musicoterapia_velhice.htm Acesso em: 20 jan. 2010.
SIMÕES, R. Corporeidade e Terceira Idade: A marginalização do corpo idoso. 3.ed. Piracicaba: Unimep. 1998. 131 p.
ZIMERMAN, G. I. Velhice: Aspectos Biopsicossociais. Porto Alegre: Artmed. 2000. 229 p.

Fonte:http://www.cuidardeidosos.com.br/

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