Quem fica com o doente?



Pode ser um derrame, um acidente. Pode ser um velho, um jovem. Se a doença é incapacitante e o tratamento, para sempre, o paciente depende de ajuda não só para se tratar, mas também para atividades básicas, como comer, tomar banho.
Quem fica com o doente? No sistema público, doença incapacitante dá direito a pensão e medicamentos. Para outras necessidades – fisioterapia, consultas, exames-, o doente tem que ir atrás de postos ou ambulatórios que tenham os serviços.
A lei prevê atendimento e internação domiciliar pelo Sistema Único de Saúde, mas poucas instituições conseguem oferecer o serviço. O doente que não tem um cuidador responsável por ele após a alta acaba caindo na fila por um leito em hospitais de retaguarda. Esses hospitais são locais para internação de longa duração -em geral, a vida toda- que não requerem investimento em alta tecnologia, centros cirúrgicos etc. O foco é enfermagem, reabilitação, sondas.
“Nos hospitais de grande porte e alta ou média complexidade, o leito é preciosíssimo. É preciso liberar a vaga assim que for possível a alta”, diz Sueli Luciano Pires, diretora do Hospital Geriátrico e de Convalescentes D. Pedro II, mantido pela Santa Casa de São Paulo.
Hospital de retaguarda, o D. Pedro fica com uma pequena parte desses doentes. Aqueles que não têm mesmo para onde ir. Com 440 leitos, é o maior do tipo no país. Recebe pedidos de internação de 23 hospitais municipais.
“Precisaria ter uns dez [hospitais] D. Pedro em São Paulo”, diz. Ela conta que a lista de espera, hoje com 15 pedidos, é menor do que a necessidade real.
Se a fila não anda, a demanda fica reprimida. Hospitais tentam achar cuidadores que levem esses doentes.
Além de serem poucos, esses hospitais ficam quase escondidos nos sistema de saúde. O SUS não mostra, na base de dados nacional, o número de leitos de retaguarda. No Estado de São Paulo, há 3.991 leitos para doentes crônicos. Cada Estado e município administra as vagas nesses hospitais, que ficam para os pacientes crônicos de mais alto risco social.
“HOME CARE” DO SUS
Independentemente da escassez de vagas nos hospitais de longa permanência, não é viável institucionalizar todos esses doentes. É ruim para o sistema e, na visão atual da medicina, para o paciente.
“Manter o convalescente muito tempo no hospital é o contrário do que se espera de qualidade de vida”, diz Joel Mello, do serviço de atendimento domiciliar do Hospital Municipal do Campo Limpo.
Uma alternativa é o desconhecido suporte público de saúde domiciliar -em linguagem oficial, Serviço Extra Institucional de Saúde. Mas o “home care” do SUS existe mais na teoria que na prática. O atendimento e a internação domiciliar foram estabelecidos no SUS por uma lei de 1990. Em 1998, uma portaria federal determinou os requisitos para credenciamento de hospitais e os critérios para a realização do serviço.
“O SUS colocou uma série de limitações para qualificar o paciente à internação domiciliar”, diz Joel Mello. Além dessas restrições, os municípios têm limitações de investimento para transformar a lei em atendimento real. É preciso ter equipe 24 horas, ambulância etc. “Estamos longe de ter a coisa funcionando”, diz Mello.
“Uma enorme população vive no limbo entre ser um doente ou um morto. A maioria fica a pé”, diz Ivone Bianchini, que atua no Núcleo de Assistência Domiciliar Interdisciplinar do HC paulista. O núcleo atende 132 doentes, encaminhados pelos ambulatórios de geriatria, neurologia e clínica do HC.
Repórter IARA BIDERMAN – Folha de São Paulo
Extraído de: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/saude/sd3110201001.htm

Fonoaudiologia e os idosos




O envelhecimento, além de ser considerado externo à pessoa, não tem uma data de início definida e, por não ser bem vindo, não é comemorado como se faz com a infância, adolescência e idade adulta. Sem se dar conta o tempo voa, os cabelos embranquecem, a pele enruga e, de repente, o adulto se torna um velho. O mais comum é sentir que perdeu seu lugar na sociedade, na família, no trabalho. Por outro lado à sociedade também não sabe como acolhê-lo.
De tempos para cá, o número de idosos aumentou ainda mais. Nos EUA a expectativa de vida, que no início do século era de 47 anos, atualmente é de 74 anos. 12% da população é composta por pessoas de mais de 65 anos. No Brasil essa população ocupa a fatia de 4,9% e no estado de São Paulo equivale a 5% (SEADE 1992).
A velhice, em todas as suas manifestações, nem sempre é muito analisada por ser considerada a fase menos agradável da vida. 
Mas antes temos que responder algumas questões: quando o indivíduo começa a envelhecer? A partir de que momento considera-se o indivíduo um idoso?
Existem muitas controvérsias: alguns autores consideram o início do envelhecer a partir dos 25 anos, idade na qual se atinge o desenvolvimento máximo. Outros adotam 65 anos como sendo a idade legalmente considerada de início da velhice (Douglas, 1994). Já outros autores sustentam a idéia de não rotular 65 anos como a idade do aparecimento dos sintomas da velhice.
A verdade é uma só: o momento do início, assim como a forma e a velocidade em que a velhice se instala dependerá das características pessoais de cada indivíduo e/ou das influências do meio em que vive (Douglas, 1994). A demanda da população idosa tem se mostrado cada vez mais significativa para o mercado fonoaudiológico. Por esta razão sentiu-se a necessidade de conhecer mais sobre o processo de envelhecimento das funções vitais.
Mas como a fonoaudiologia pode ajudar na terceira idade?
Fonoaudiologia é a profissão da área de saúde que pesquisa, previne, e trata as alterações de audição, voz e funções vitais como sucção, mastigação e deglutição.
A atuação fonoaudiológica envolve a aplicação de medidas de caráter amplo (imunizações, aconselhamento, planejamento familiar, etc.) dirigidas às doenças em seu aspecto global e implica também em medidas específicas, (orientações e aconselhamento), algumas a serem aplicadas antes mesmo que a doença ocorra e, outras, em qualquer estágio da evolução das patologias da comunicação.
O que mais evidencia no processo de envelhecimento são as alterações da comunicação. Essas mudanças interferem negativamente no idoso, uma vez que conduz a redução dos estímulos vitais, face a ausência do exercício do sistema comunicativo que propicia a ação de múltiplos órgãos e sistemas, cuja a missão primordial não é a linguagem, mas que repercutem na compreensão e produção da linguagem, como também as dificuldades nesta área, segregam ainda mais o idoso, cristalizando o quadro de preconceito social existente, o que pode levar o idoso a uma vida inativa, isolada, impulsionando-o em direção à deterioração das condições psíquicas e físicas, não só pela redução das atividades físicas e intelectuais que este fato gera, como também pela solidão, ansiedade e deterioração da imagem pessoal; tudo decorrente da incapacidade ou dificuldade de se comunicar.
Podemos afirmar que a origem de muitos distúrbios da voz e da fala encontra-se na desarmonia do nosso sistema neurológico, físico, psicológico e social. A gagueira, a rouquidão, os vícios de pronúncia, os tremores na voz, a rigidez na articulação, a variabilidade da altura, do tom e de timbre, os transtornos na ressonância, alterações na deglutição e etc, podem ser resultados de um funcionamento anormal de um ou de vários dos conjuntos dos sistemas mencionados.
Daí a necessidade de um pronto diagnóstico fonoaudiológico, a fim de que se possa dar o necessário encaminhamento, como também a responsabilidade do fonoaudiólogo de informar e sensibilizar a todos que oferecerão serviços a essa população, evitando assim maiores danos à saúde. 
Em suma, a atuação fonoaudiológica está baseada numa abordagem, onde procuramos trabalhar a comunicação dentro de manifestações bio-psico-sociais. 
A voz, a fala e o o corpo relatam muito de nossa saúde, contendo sinais que não podemos desprezar, sendo indicativos de problemas neurológicos, orgânicos, psicológicos e funcionais.
PATOLOGIAS QUE PODEM SURGIR NA TERCEIRA IDADE
Presbiofonia: envelhecimento da voz 
Embora o processo de envelhecimento seja progressivo e inevitável, existem grandes diferenças entre indivíduos na forma e extensão com que as alterações ocorrem. Diversas pesquisas demonstram que pessoas com a mesma idade cronológica exibem diferentes níveis de performance cognitiva, sensorial, motora e qualidade vocal, que dificulta a identificação da idade pelos ouvintes.
Considera-se como um o período de máxima eficiência vocal dos 25 aos 40 anos, sendo que a partir dessa idade ocorre uma série de alterações estruturais na laringe. O inicio do envelhecimento vocal, seu desenvolvimento e o grau de deficiência vocal dependem de cada indivíduo, de sua saúde física e psicológica e de sua história de vida, além de fatores constitucionais, raciais, hereditários, alimentares, sociais e ambientais, incluindo aspectos de estilo de vida e atividades físicas, desta forma é possível a modificação do curso das alterações vocais do envelhecimento através de exercícios, boa nutrição e estilo de vida saudável, o que explica como alguns atores, cantores ou outros profissionais da voz atuante, as alterações na voz devido ao envelhecimento podem ser menos proeminentes ou mesmo não ocorrer.
Alterações respiratórias, tensões musculares, problemas de postura, podem gerar o mau uso dos mecanismos do aparelho vocal impedindo uma voz natural.
  • Presbiacusia – envelhecimento do aparelho auditivo: É uma das perdas que mais prejudica a capacidade de comunicação. A exposição a ruídos, estresse, uso de certos medicamentos e deficiências alimentares são alguns fatores da perda auditiva. A queixa típica do idoso com esse quadro é que escuta, mas não entende o que lhe é dito.
  • Disfagia – dificuldade em engolir o alimento: As causas mais comuns são os problemas neurológicos como AVC, TCE, Parkinson, Mal de Alzheimer, miastenia gravis, distrofia muscular, esclerose lateral amiotrófica, paralisia cerebral, entre outros.
  • Distúrbios da motricidade oral: são mudanças anatômicas e/ou funcionais do mecanismo oral que podem afetar diretamente a fala e outras funções, como mastigação e a deglutição. As causas mais comuns são ausência de dentes, problemas periodentais, atrofia dos músculos mastigatórios, prótese mal ajustada e podemos também encontrar alterações na deglutição e linguagem nas doenças neurológicas.
ALTERAÇÕES MAIS COMUNS ENCONTRADAS
  • diminuição do paladar (não consegue mais sentir plenamente o gosto dos alimentos, ocasionando aumento na adição de temperos)
  • diminuição da saliva
  • lentidão na hora da mastigação, seja pelo envelhecimento dos órgãos como a língua ou por uso errado da prótese (dentadura)
  • ter que fazer o ato de engolir várias vezes para que o alimento todo desça
  • dificuldade em engolir alimentos duros, fibrosos e secos
  • engasgos freqüentes e tosse após engolir
  • a voz torna-se grave em mulheres e aguda nos homens
  • mau uso de aparelhos de amplificação auditiva
  • presença de refluxo gastro-esofágico
  • próteses dentárias (dentadura) mal adaptadas
  • dificuldade ou incapacidade de escutar e/ou distinguir sons, principalmente em ambientes ruidosos.
Fonoaudiológa Juliana Piassi
Extraído de: http://www.profala.com/arttf87.htm

Respeito aos idosos




Este texto não é tão recente e mesmo assim é válido posta-lo pois é interessante.

Em comemoração ao Dia Nacional do Idoso (01/10), segue um artigo direcionado a todos os idosos brasileiros: homens e mulheres; negros, brancos, pardos, indígenas e orientais; menos ou mais velhos; ativos ou dependentes; solteiros, casados, separados e viúvos!
Vocês, ao longo de suas vidas, fizeram e continuam fazendo parte da história do nosso país! Tenho certeza de que, direta ou indiretamente, esta população de idosos contribuiu com a formação moral, cívica e profissional de muitas outras pessoas, as quais aprenderam com seu exemplo de cidadãos!
Parece desnecessário falar que temos que respeitar todos esses idosos, porém, infelizmente parece que muitas pessoas esquecem este pressuposto básico. Acredito que muitos de nós aprendemos com os nossos pais a importância de se respeitar os mais velhos, porém, parece que isto tem ficado esquecido, já que muitas ações revelam o contrário. E não falo em respeitarmos apenas os idosos que já conhecemos, é nosso dever respeitar a todos eles.
Desrespeitamos um idoso cada vez que sentamos nos assentos destinados a eles nos ônibus; quando entramos nas filas destinadas a eles; sempre que excluímos um parente ou amigo idoso de uma conversa informal; quando rimos de alguma coisa que um idoso portador de demência fale ou faça; sempre que ignoramos o que o idoso fala, pensa ou sente; nas vezes em que permitimos que o idoso se isole da família e da comunidade; quando generalizamos todos como ranzinzas, chatos, rabugentos ou ultrapassados; sempre que não permitimos que o idoso participe das atividades domésticas; nas vezes em que acabamos por tratar o idoso como criança; dentre outras situações que configuram desrespeito ao idoso.
Noutras situações, bem mais graves, não estamos apenas desrespeitando, como também podemos estar violentando ou violando os direitos do idoso. Exemplo disso são a violência física (bater, empurrar, machucar, fazer movimentos bruscos, como publicado no site G1); a violência psicológica (chantagens, extorsão, xingamentos, agressão – neste mesmo link, achei pejorativo o filho referir-se ao pai como “o velho”); a negligência (como, por exemplo, a pessoa saber que um idoso está sendo vítima e violência e não denunciar o agressor, ou deixar de oferecer cuidados a um idoso que tem algum tipo de necessidade especial), dentre outras formas de violência, algumas destas passíveis de serem penalizadas, como no caso deste auxiliar de enfermagem que poderá responder criminalmente enquanto pessoa e enquanto profissional.
Respeitamos o idoso quando o reconhecemos seu papel enquanto pessoa, garantindo a ele dignidade, moradia, alimentação, condições de saúde e qualidade de vida. Quando respeitamos seus direitos adquiridos com o avanço da idade e cuidamos para que os outros também os respeitem. Quando respeitamos sua condição de idoso, seu estado demencial e ensinamos as crianças a fazerem o mesmo. Quando o tratamos como idoso – não como criança ou adolescente – mas enquanto um cidadão com direitos, deveres e ampla carga de experiência. Quando incluímo-nos em atividades sociais, educacionais, laborais e familiares, respeitando seu ponto de vista, dando espaço para que ele também dialogue.
Fonte:http://www.cuidardeidosos.com.br/

Paulo, Carta aos Coríntios



Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos
e não tivesse o dom de cuidar
seria como o metal que soa ou como o sino que tine.
E ainda que tivesse o dom da profecia
e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência,
e ainda que tivesse toda a fé,
de maneira tal que transportasse os montes,
e não tivesse o dom de cuidar, nada seria.
E ainda que distribuísse toda a minha fortuna para sustento dos pobres,
e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado,
se não tivesse o dom de cuidar,
nada disso me aproveitaria.

O cuidado é paciente, é benigno; o cuidado não é invejoso, não trata com leviandade,
não se ensoberbece, não se porta com indecência,
não busca os seus interesses, não se irrita,
não suspeita mal, não folga com a injustiça,
mas folga com a verdade.
Tudo tolera, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.
Cuidar nunca falha.

Havendo profecias, serão aniquiladas; havendo línguas, cessarão;
havendo ciência, desaparecerá;
porque, em parte conhecemos, e em parte profetizamos;
mas quando vier o que é perfeito,
então o que o é em parte será aniquilado.

Quando eu era menino, falava como menino,
sentia como menino, discorria como menino,
mas logo que cheguei a ser homem, acabei com as coisas de menino.
Porque agora vemos por espelho em enigma,
mas então veremos face a face;
agora conheço em parte, mas então conhecerei como também sou conhecido.

Agora, pois, permanecem a fé,
a esperança e o cuidar com amor, estes três;
mas o maior destes é  cuidar com amor!

Adaptação da Primeira Carta de Paulo ao Coríntios, Cap. 13.
Fonte:Portal do Idoso

Tributo a meus pais



Era um final de tarde e a data exata ficou gravada em mim: 23 de fevereiro de 2008. Mamãe estava sentada numa das mesas do playground do prédio acompanhada por mim, pela fisioterapeuta e pela cuidadora. Ela estava feliz, rindo das nossas brincadeiras e falando muito pouco, pois a dificuldade de se expressar verbalmente já era bastante severa. De repente, num dos raros momentos mágicos que vez por outra aconteciam, ao me ver acender um cigarro, olhou-me com uma ternura infinda e disse:
“Deixe este cigarro! Eu quero muito você!” e virando-se para a fisioterapeuta e para a cuidadora disse: “ela sabe me consolar. Ela é muito boa e faz tudo muito bem. Eu gosto muito dela. Ela cuida bem de mim e eu cuido dela. Ela é muito corajosa e faz tudo muito certo.” E voltando a me olhar nos olhos disse: “Eu quero muito bem a você!”
Confesso que as lágrimas dançaram em meus olhos e meu coração bateu forte no peito sentindo a humilde alegria de vê-la, com muita serenidade, demonstrar que percebia o meu carinho e o meu amor por ela.
Hoje faz um mês e cinco dias que ela se foi e aqui estou eu, num fim de tarde, com as minhas lembranças e a minha imensa saudade. Meu olhar passeia pela casa de paredes nuas, poltronas vazias e caixotes espalhados pelos quatro cantos. Sinto falta da companhia dela…
Mergulhada num vazio quase insuportável dou-me conta de que a presença física dela era a luz que iluminava meu coração e, mais que isso, dava–me a sensação de continuar cuidando do meu pai. Isto porque, quando em 2003 ele se foi, continuei na casa deles para cuidar dela que já estava apresentando todos os sintomas do Alzheimer. Como na época tive que me fazer forte para dar ânimo a ela, percebo claramente que só agora estou dando vazão à dor de havê-lo perdido. Loucura ou não, a sensação que me invade é de que os dois partiram juntos no mês passado.
Obrigada, meus queridos pais, pelos exemplos de força, coragem e determinação que modelaram o meu caráter e nortearam a minha vida. Obrigada por me permitirem estar com vocês e por enriquecerem meu espírito ensinando-me a ser um ser humano mais sensível, mais paciente e mais feliz.
A vida me deu dois presentes valiosíssimos: o primeiro foi ter vocês como meus pais e o segundo foi esta oportunidade de aprender com vocês dois a alegria serena da entrega e dedicação amorosa, a tranqüila aceitação da vida e a coragem de partilhar os momentos de dor. Serei eternamente grata a vocês dois por me transmitirem lições de vida que nenhuma escola do mundo pode ensinar e nenhum tesouro pode comprar.
Hoje, no silêncio desta casa vazia, fecho os olhos e ouço meu coração batendo forte ante a nítida imagem de vocês dois no momento último das nossas despedidas. Apesar da dor da minha saudade, conforta-me a serenidade que vi em seu rosto, mamãe, ao exalar seu último suspiro logo após ouvir-me mais uma vez dizer do meu imenso amor enquanto lhe afagava os cabelos. Ao mesmo tempo vejo o seu rosto, paizinho, e sinto ainda a sua mão levemente afagar a minha quando, na última noite no leito da UTI, ouviu–me cantar a estrofe final da sua canção preferida:
“Quando eu for me embora para bem distante e chegar a hora de dizer adeus, fica nos meus braços só mais um instante, deixa os meus lábios se unirem aos teus! Índia, levarei saudade da felicidade que você me deu! Índia, a tua imagem sempre comigo vai dentro do meu coração…!”
É então, meus queridos que, mesmo em meio a toda a minha inevitável dor, compreendo: vocês não se foram! Vocês estão aqui em meu coração e nos corações de quem amam e de quem lhes ama! É aí nesse cantinho silencioso que podemos continuar nos encontrando para as brincadeiras, o riso e o pranto! É nesse cantinho que sempre lhes encontrarei para me dar força na luta renhida do dia-a-dia.
E como um bálsamo a fundamentar a luz do meu entendimento, unindo frases do seu romance preferido, Iracema de autoria de José Alencar que, a seu pedido, tantas vezes e li e reli à beira do seu leito durante o ano de 2003, concluo: “Serenai verdes mares…”, serenai! pois se “tudo passa sobre a terra”, no coração da alma, a luz não morre jamais!
Fonte:http://www.cuidardeidosos.com.br/

Os idosos e seu Estatuto



Hoje, vamos ler o que uma cuidadora tem a desabafar:
“Claro que eu não sou paga para tomar conta da família de dona Izabel! Sou sua cuidadora e acabo sendo também a doméstica da casa, pois o filho não contratou ninguém e quem também arruma a casa, faz a comida e ainda lava e passa as roupas sou eu. Agora também tenho que ficar preocupada com o pouco caso da filha, que mora no sul do país e que pouco vem ou telefona para saber como está a mãe; ou do filho, que mora em nossa cidade, mas que vem só no início do mês, para trazer a compra de supermercado, pagar as contas e trazer meu salário. Só.
Deixe me apresentar: meu nome é Sebastiana, sou cuidadora a cinco anos de dona Maria Izabel, uma boa senhora de 87 anos, que não me dá trabalho nenhum. Acamada pela doença de Parkinson avançada, minha patroa também já não conhece mais as pessoas e o doutor acha que tem aquela doença de Alzheimer junto. Repito, ela não me dá trabalho algum. A rotina é puxada, com remédios na hora marcada, banho na cama, alimentação especial para não engasgar, fazer companhia para ela e cuidar da casa. Na verdade, moro com ela e minha casa acaba sendo aqui também. Sou viúva e tenho uma filha casada que me ajuda, quando preciso fazer alguma coisa na rua ou ir ao médico para controlar minha pressão e meu diabetes. Acho que ainda tenho muita saúde, apesar dos meus 66 anos!
Voltando para minhas queixas, não é a dona Izabel que me traz preocupação, mas a maneira de como os filhos tratam a mãe. O rapaz, que é advogado, como disse, só vem no começo do mês, com aquele ar de preocupação com a saúde da mãe, traz as compras de supermercado, pergunta como ela está, fala algumas palavras de carinho que ela não dá atenção, pega as contas para pagar, traz meu salário mínimo e vai embora, em menos de 20 minutos de visita. Para aparecer só mês que vem. Uma vez, o vi conversando com a irmã no telefone, dizendo que ela precisa aparecer mais, que ele não tinha obrigação de cuidar da mãe sozinho e cuidar também de todos os seus interesses. Interesses… Para uma viúva que ganha pensão do falecido marido oficial militar, o dinheiro daria para pagar mais pessoas para minha ajudar e ainda para contratar um fisioterapeuta que tanto o geriatra pede e o filho diz não ter condições. O que será que o filho faz com este dinheiro?
Para terminar os meus lamentos, outro dia conversei com o filho sobre a possibilidade de me dar umas férias, pois precisava viajar para ver minha irmã mais velha, que mora no sul de Minas, e que também está muito doente. Ele disse que ia pensar no assunto, mas me adiantou que está muito difícil arrumar uma pessoa de confiança como eu, que morasse na casa. Também alegou que precisava da ajuda da irmã para conseguir contratar outra cuidadora, pois o dinheiro nunca dava para cobrir todos os gastos.
Meu genro fica fulo da vida, quando a gente conversa sobre isto. Disse que o descaso da família de dona Izabel é caso de polícia! Até falou num tal de estatuto do idoso, mostrando que é obrigação dos filhos dar amparo aos pais na velhice, etc e tal. Quanto a mim, falou como se fosse uma intimação: “Se a senhora não puder tirar férias e viajar para ver sua irmã, eu mesmo vou à justiça do trabalho ver os seus direitos!” Meu Deus, que confusão! O que me dói só de pensar é quem ficará com a coitada da dona Izabel, que não tem culpa de nada. Fico com remorso em deixá-la com uma pessoa desconhecida e viajar tranqüila. Ai, minha Nossa Senhora, o que é que eu faço?”

Então, caros internautas, o que acham? Os abusos contra idosos podem não ser de maneira velada ou expressada em atos de violência. Muitas vezes é sutil, quase imperceptível. Outras vezes, como mostrado nesta história de dona Sebastiana, acontece o descaso com a mãe e com a cuidadora, simultâneamente! Você acha que a atitude do genro de dona Sebastiana está correta? Você conhece o Estatuto do idoso? Qual é a sua opinião sobre as atitudes dos filhos de dona Izabel?
Dê sua opinião, faça seu comentário abaixo!
RAP DO IDOSO
Rap foi feito por Dona Teresinha, traduz numa linguagem muito atual, a essência do Estatuto do Idoso.

Fonte:http://www.cuidardeidosos.com.br/os-idosos-e-seu-estatuto

Em busca da afetividade perdida



Mesmo debilitados devido ao peso dos anos ou dependentes e acamados devido às doenças, a saudável condição física e emocional de meus pais foi sempre alvo de elogios. Aonde quer que os levasse, hospitais, consultórios, praças públicas, shoppings, as pessoas que encontrávamos (desde profissionais da área de saúde a estranhos transeuntes) faziam questão de nos abordarem para expressar sentimentos de apreço diante do que viam.
Emocionada, sentia-me grata e orgulhosa por vê-los atrair a atenção e o carinho de tanta gente! Entretanto, algo me inquietava: havia um tom de espanto, como se fosse algo extraordinário estar diante de nonagenários bem asseados, bem alimentados, com pele íntegra e com brilho no olhar, apesar das condições patológicas. Muitos abraçavam a mim e a minha mãe com lágrimas nos olhos enquanto diziam com vozes embargadas: “que coisa linda! Deus as abençoe!”
Intrigada, porque nunca senti que estivesse fazendo nada de excepcional, quando médicos mais amigos teciam algum comentário desse nível, passei a debater com eles essa sensação de inquietude que me invadia. Ouvi então discretos depoimentos que, resumidamente, me inteiravam de que a grande maioria dos pacientes idosos por eles atendidos está sempre entregue aos cuidados de terceiros, sendo muito raro e dificultoso o contato com algum familiar dos mesmos. Os resultados disso são visíveis: pacientes depressivos, mal nutridos, desidratados e mergulhados em graus de dependência física que não condizem com as condições patológicas apresentadas.
O pior disso tudo é que as diversas situações não podem ser enquadradas como casos de abandono, de negligência ou mesmo de maus tratos: os idosos estão lá, no conforto da casa deles e com pessoas contratadas para os devidos cuidados. Mesmo aqueles que têm algum familiar morando com eles são condenados ao ostracismo: geralmente restritos ao quarto ou poltrona na sala de visitas não são estimulados a participar de conversas ou expressar seus sentimentos ou opiniões.
E assim histórias e mais histórias acontecem desde sempre e se repetem pelo mundo afora. Os direitos humanos, as cartas magnas das nações, os estatutos sejam do idoso ou da criança e do adolescente, são meras palavras escritas num papel sob a menção honrosa de ter força de lei… Mas mesmo supondo que tais leis serão cumpridas pelo receio às punições previstas caso venham a ser desrespeitadas, o afeto, a fraternidade, o amor por nós mesmos refletindo-se no amor pelo outro jamais poderão ser obtidos pela força de nenhuma imposição.
A ciência avança em suas pesquisas e vai descobrindo meios de aliviar o sofrimento ou curar o corpo debilitado por doenças, acidentes ou até mesmo corrigir os efeitos ‘antiestéticos’ do envelhecimento; a tecnologia avança permitindo uma maior proximidade entre os indivíduos e oferecendo meios para que se tenha mais conforto e tempo disponível para usufruir do prazer de viver…
Entretanto, cada vez mais não sobra tempo… Cada vez mais as pessoas vivem isoladas e prisioneiras do medo da violência intensificada em todas as camadas sociais… Cada vez mais a morte de jovens se alastra pelo mundo afora, restando aos velhos enterrarem seus filhos e netos enquanto, sob o peso da idade, sofrem os atropelos impostos por todos os segmentos de uma sociedade que quando não os abandonam à própria sorte, os mantêm afastados de toda sua complexa dinâmica de relações. Paradoxalmente, segundo pesquisas mais atuais, mesmo vivendo de parcas aposentadorias, são eles que atualmente se destacam como mantenedores da sustentação econômica da família, uma vez que os filhos adultos – seja pela escassez de empregos, seja pelas condições econômicas deficitárias, seja por mortes prematuras – continuam na dependência financeira dos velhos pais para criarem os próprios filhos e tocarem adiante as próprias vidas.
Estamos sempre dispostos a julgar e condenar os outros mas nunca admitimos a nossa parcela de responsabilidade sobre tudo o que acontece, como se a sociedade fosse uma entidade autônoma que atua sem a nossa participação, sem a nossa conivência. Excluímo-nos sempre quando algo nos choca e desagrada, entretanto, seja por omissão, indiferença ou ação direta, cada um de nós alimenta e torna possível o funcionamento de toda uma engrenagem que repudiamos e sob a qual nos sentimos sufocar.
Há um imensurável buraco na teia do sistema que sustenta toda essa engrenagem social. Há um profundo abismo sob os pés da humanidade que parece precipitar-se às cegas numa corrida desenfreada rumo… a quê? Só o tempo dirá, se ainda (para o Homem) tempo houver…
Fonte:http://www.cuidardeidosos.com.br/