Fernando Pessoa, o Brasil e os idosos



Álvaro de Campos, uma das fragmentadas faces do eterno Pessoa, declara em Tabacaria: “Fiz de mim o que não soube. E o que podia fazer de mim não o fiz. O dominó que vesti era errado. Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me. Quando quis tirar a máscara, estava pegada à cara. Quando a tirei e me vi ao espelho, já tinha envelhecido…”
No dia primeiro de outubro, comemora-se o Dia Internacional e Nacional do Idoso. Também foi em primeiro de outubro de 2003, que o Presidente Lula sancionou a lei 10.741, que dispõe sobre o Estatuto do Idoso. Dito isso, podemos tirar algumas lições sobre o envelhecimento de nossa população, já que o IBGE afirma que já somos 21 milhões idosos, no Brasil. Lembrar que em 1990, éramos apenas 9 milhões idosos, portanto dobramos o número de idosos em apenas 20 anos!
O envelhecimento é uma conquista e uma realidade de nossas cidades. O que é lastimável, o que é triste, percebe-se nas campanhas para eleição desse ano: o idoso não é pauta de campanha e nem promessa sequer. Nada que refira à atenção de sua qualidade de vida, nada que refira às políticas públicas de saúde, nem uma frase que expresse a preocupação em proteger o idoso e fazer valer a letra ainda “morta” do Estatuto do Idoso.
Os idosos são responsáveis por 1/3 de tudo que se gasta em saúde e doença neste país. Só que a saúde do idoso é diferente da saúde do adulto e da criança. Os nossos futuros médicos estão saindo das faculdades sem aprender um conjunto de habilidades mínimas: não sabem prescrever medicamentos para os idosos, não sabem avaliar a capacidade do idoso de cuidar de si próprio, não reconhecem, nos idosos, as apresentações atípicas de doenças comuns, nada sabem sobre prevenção de quedas e não aprendem a trabalhar em conjunto com profissionais de saúde de áreas afins.
O futuro do envelhecimento começa no presente e não temos muito para oferecer aos nossos 21 milhões de idosos. Temos pouquíssimas faculdades que oferecem a disciplina de geriatria, raros centros de referência de saúde do idoso, não temos como assistir com dignidade, principalmente, os nossos idosos mais dependentes (leia-se Alzheimer, Parkinson, AVC e cuidados paliativos). A tragédia tem data marcada: em 2030, o Brasil terá, certamente, mais de 35 milhões de idosos!
Resta-nos repetir Fernando Pessoa, em seu leito de morte, ao escrever sua última frase (em inglês): “I know not what tomorrow will bring”…“Eu não sei o que o amanhã trará.”
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